ÚLTIMO RECURSO APRESENTA GUIA PARA COMPREENDER A CIMEIRA DO G7
Segundo as informações oficiais, a cimeira de 2023 dedicar-se-á, entre outros tópicos, à matéria da energia e clima, com especial foco na transição energética. Podemos, assim, dormir descansados, sabendo que um conjunto de países que se tem dedicado, nos últimos tempos, a mascarar a energia nuclear e o gás fóssil como energias “verdes” vão sentar-se à mesa para decidir o futuro da transição energética global.
O que é o G7?
O G7 é um grupo informal composto pelos EUA, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Itália e Canadá, contando ainda com a presença de representantes da UE.
Se ignorarmos o complexo industrial-militar e as dinâmicas neocolonialistas que estes países continuam a perpetuar, talvez possamos concordar com a sua auto-definição como conjunto de países que partilham “valores comuns de liberdade, democracia e direitos humanos” e que, por isso, se reúnem para alinhar a sua ação política.
Não é, de todo, ultrajante que um conjunto de países obviamente homogéneo em termos ideológicos e culturais e com declaradas pretensões de hegemonia mundial se reuna anualmente para discutir a trajetória futura da Humanidade. Paternalismo e água benta nunca fez mal a ninguém!
Como surgiu o G7?
Perante a crise socioeconómica e política da década de 1970, os países que compõem atualmente o G7 sentiram a necessidade de se reunirem em ambiente informal para definir em conjunto a política macroeconómica. Que é como quem diz: perante os choques petrolíferos originados pelas disputas entre as potências mundiais e pela instabilidade no Médio Oriente, a solução encontrada foi fazer uma reunião a portas fechadas, sem assessores e jornalistas, para decidir unilateralmente como é que o sistema económico e financeiro mundial devia funcionar daí em diante.
Qual é o objetivo das cimeiras do G7?
Na linha das suas origens, as cimeiras do G7 desde 1975 têm-se dedicado a discutir os tópicos quentes da atualidade geopolítica e económica internacional. Como tem enfatizado o grupo “Stop-G7”, que mobilizou cerca de 7.500 pessoas num protesto contra a cimeira de 2017, trata-se de um clube restrito de sete Estados que reconhecem a si mesmos legitimidade para tomar decisões que podem afetar os outros quase 190 países do Mundo.
Quem mais foi convidado este ano?
Brasil, Índia, Indonésia, Coreia do Sul, Austrália, Ilhas Cook e Vietname, bem como a ONU. O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, deverá discursar na cimeira por videoconferência. É importante atentarmos, especialmente no caso do Brasil e da Ucrânia, do porquê deste convite. Que interesses representam? Emissões de CO2 não serão.
Que projetos estão em cima da mesa?
Macron e Olaf Scholz poderão alinhar entre si o trajeto e operacionalização do novo gasoduto proposto para ligar Portugal, Espanha, França e, agora, Alemanha. Aproveitam e pedem a Biden algumas dicas sobre como aprovar projetos altamente polémicos, que põem em risco o cumprimento das metas globais de redução de emissões, já que a Administração da “Land of the Free” conseguiu aprovar, de seguida, o Projeto Willow e o projeto de LNG do Alasca. Rishi Sunak certamente dará também um contributo importante para a conversa, partilhando a experiência nacional com os projetos petrolíferos de Cambo e Rosebank.
Os representantes da UE ficarão, por certo, satisfeitos por verificar que a inclusão do gás fóssil na taxonomia verde da União não foi em vão, tendo extraordinário potencial para justificar os financiamentos necessários ao alargamento dos gasodutos europeus. Como todos sabemos, o fundamental é que a UE seja líder em qualquer coisa! Em suma, teremos:
- A afirmação da hegemonia dos EUA – o maior produtor de combustíveis fósseis – perante as políticas climáticais.
- Culpabilizarão a China e a Rússia pelo colapso climático e, ainda, pela destruição da paz no Mundo.
- Reafirmarão a necessidade de uma economia mais forte para fazer face aos avanços dos gigantescos asiáticos.